Notas sobre o parto numa afroperspectiva

Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, em seu texto “Matripotência” descreve a relação avó-filha-neta durante o trabalho de parto.

É costume entre os Yorùbá que a Ìyá mais velha (avó), faça invocações a sua própria cabeça (orí) e à cabeça de sua filha parturiente. Essa súplica é considerada a mais poderosa das súplicas, substituindo as orações a qualquer outra
divindade.

A gestante, por sua vez, também fará súplicas ao seu próprio orí e ao orí da sua mãe: Orí’yàámi gbà mí ó! (Orí de minha Ìyá, por favor, me proteja!)

Na cultura Yorùbá, não há momento de maior perigo que o nascimento de uma criança. Dada a força da relação mãe e filha (relação essa considerada de outra dimensão, pré-terrena, pré-concepção, pré-gestacional, pré-social, pré-natal, pós-natal, vitalícia, póstuma e superior a qualquer outra) considera-se que a presença e as rezas da avó serão fundamentais para um parto bem sucedido e para a manutenção de mãe e bebê no aiye.

Essa concepção acerca da importância da presença da avó e de outras mulheres no trabalho de parto é mais ou menos semelhante em toda a África.

Escrevo isso porque é comum lermos inúmeros textos sobre “parto humanizado” que descrevem “o cenário ideal” de um parto que excluem a avó materna e quase exigem a presença do pai.

Entretanto, em termos tradicionais, a presença do homem chega a ser um interdito espiritual para muitos povos africanos. Com isso eu não tô dizendo que os homens pretos diasporicos não devem acompanhar os partos de suas companheiras. (Tudo aqui nessa rede social vira um cavalo de batalha.) Mas é pra dizer pras irmãs que tudo bem se você não quiser a presença dele: era assim que nossas ancestrais pariam.

Aos homens: vocês não precisam se sentir diminuídos se sua presença for interditada. A relação espiritual que vocês tem com suas mães também é insuperável.

(E, obviamente, estou falando aqui de relações Ìyá – prole saudáveis.)

Assim, minhas irmãs pretas, podem se tranquilizar. O “cenário ideal” normalmente descrito para o parto, é o “cenário ideal” segundo a cultura branca. Existem outros cenários possíveis.

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