De repente a palavra “mãe” se tornou ofensiva?

Quando eu estava grávida, uma coisa que eu me questionava muito era, por quais motivos, a essa altura do campeonato, com 200 mil anos de espécie humana, mulheres precisavam tomar curso para serem convencidas da importância da amamentação.

200 mil anos.

Eu sempre irei discordar dessas análises apressadas que colocam a responsabilidade de tudo no capitalismo. É anterior. O ódio à amamentação provém da cultura que odeia mães e mulheres: “mulher desobediente, parirás com dor!”

Cadelas, gatas, búfalas, vacas, cabras, leoas… Simplesmente amamentam suas crias e ponto final. E as mulheres homo sapiens sapiens? O que aconteceu?

Fico pensando nesse nosso afastamento da natureza, a ponto de olharmos mas sermos incapazes de aprender com ela.

Fico pensando, também, no papel de 400 anos de escravidão e na persistência do colonialismo. No rebaixamento da nossa cultura em nome de outra. O que os estudos mostram é que mulheres africanas sempre amamentaram seus filhos durante muitos anos, muito mais que os 2 anos recomendados pela famigerada OMS. Mas aí eles chegaram.

Que tipo de memória carrega uma mulher cujas mulheres de sua família passaram gerações querendo amamentar seus filhos sem poder? Querendo que seus filhos a chamassem de MÃE sem poder? Sendo obrigadas a amamentar os filhos dos outros?

Houve uma época em que aquela famosa fábrica de produtos artificiais que diz “imitar” o leite materno utilizava como propaganda a ideia de que MULHERES MODERNAS E EVOLUÍDAS NÃO AMAMENTAM. Amamentar seria, segundo eles, coisa de mulher PRIMITIVA, coisa de indígena e africana. As ocidentais, que agora fingem querer parecer conosco, obviamente compraram o discurso, e aqui estamos nesse mar de fórmulas.

Que tipo de cultura desestimula a amamentação? A mesma cultura que arranca uma árvore e coloca uma imitação de plástico no lugar. A mesma cultura que substitui frutas por ultraprocessados. A cultura da artificialidade. Da indústria farmacêutica. A cultura ocidental.

E aí, depois de nos privar de amamentar durante dezenas de anos. Depois de bombardear nossas comunidades com propaganda, leite em pó e leite condensado… A cultura da artificialidade quer me convencer de que seria ofensivo mulheres africanas e suas descendentes serem reconhecidas pelo estado como MÃES ou usar a expressão LEITE MATERNO. Rsss. Já tem até projeto de lei. Gente eu não caio nessas teorizações euro-americanas. Aliás nada de novo no reino da escravidão, não é mesmo?

Cada povo que faça o que quiser de si, mas é catastrófico ver mulheres pretas aderindo a determinados tipos de discurso.

Vocês que falam tanto de ancestralidade, lembrem das nossas ancestrais que não puderem ser chamadas de MÃES, e não puderam ofertar seu LEITE MATERNO. Lembre-se de como era NA NOSSA CULTURA. O ocidente está aí mostrando onde levará a humanidade.

Pra quem está entendendo o que está acontecendo, esse texto é pra dizer que eu não abro mão. E que há muitas mulheres pretas que também não abrem mão, mas estão com receio de falar. Irmãs, ninguém nesse território tem boca pra abrir pra falar de opressão diante de nós. Nós sabemos o que é opressão. Eles não estavam lá. Somos de um povo MATRIARCAL. Na nossa cultura, a palavra mãe jamais seria ofensiva a ninguém.

Mo júbà àwọn Ìyá dudu!

(Meus respeitos às mães pretas!)

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