O MITO DA BRASILIDADE

Anin Urasse

O mito da democracia racial nos atrapalha e muito. Mas eu acho que nada nos atrapalha mais que o mito da “brasilidade” (que tem relação com o primeiro. Na verdade eu acho que é o pai dele).

Depois de enfrentar as afirmações costumeiras de que não existia racismo no Brasil e vivíamos numa democracia racial, penso que uma das tarefas daqui pra frente é enfrentar o grande mito da brasilidade.

Passamos 90% da história do país sem sermos considerados brasileiros. A independência do país veio e nós permanecemos escravos. A bandeira nacional tem o lema de um racista francês de marca maior. O estado brasileiro foi o que mais escravizou nosso povo. Até o hino, que a gente presta reverência e se emociona e bla bla bla… foi composto enquanto ainda estávamos atados em correntes.

Mesmo assim, toda a manipulação ideológica fez com que hoje negros conscientes de sua história defendam uma nacionalidade imposta e lutem pela integração nacional e por nossa integração da “nação”. Isso vai do militante novo às nossas principais referências. Isso é louco.

Certos estavam os quilombolas, que ao invés de reclamarem um lugar na casa grande construíram pedacinhos de África pelas bandas de cá. Muito mais ousados que nós, ao invés de “ocupar” os espaços brancos criaram poderes paralelos. Estados dentro do estado. Ninguém se reivindicava brasileiro não.

Ainda há o argumento de “nós somos brasileiros sim porque construímos esse país”. Sinceramente? Nada mais sádico. Construímos o país na base do chicote! Ninguém queria estar aqui, ninguém veio por vontade própria, ninguém veio a passeio – e sempre que podíamos, fugíamos.

Há que se enfrentar o monstro da brasilidade. “Somos todos brasileiros” é o novo “somos todos iguais”. Quem tem medo de romper com o país que nos mata desde que o primeiro africano chegou aqui?

12 comentários sobre “O MITO DA BRASILIDADE

  1. eu já vi um cara falar pra mim “eu nunca vi um ato racista na minha vida, nunca presenciei racismo”, perguntei se ele morava em marte…enfim…tem idiota que acredita em tudo…quem abrir a boca pra falar de que aqui é uma democracia racial…ou que não tem racismo é um/uma imbecil… ou vive na pós verdade…aliás…tá foda…nunca vi esse “país” tão lixo como agora…

    Ps.: nunca mais me respondeu…chateada comigo???
    ~=o(-

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  2. o problema esta em tentar equalizar as pessoas. Cada individuo é subjetivo, ou seja nem todos negros tem condições de aceitar as a filosofia pan-africanista, e elas estão em seu direito. Mesmo os brancos e outros povos divergem entre si, sendo até mesmo rivais. exemplo: protestantes e católicos, muçulmanos xiitas e sunitas, esquerda e direita. todos são divergentes. Acho que a solução seria criar uma forma de religião, baseada na filosofia africanistas, com código de conduta entre os confrades, e os de fora. Deveria converter pessoas que compartilha da filosofia e criar nossa própria comunidade, nossas empresas, templos, etc. como você expões, uma sociedade dentro de outra sociedade. Sou bastante radical, a comunidade deveria ser restrito apenas a negros , nada de mestiço. E absolutamente sigilosa, os de fora não sabe de sua existência e dinâmica. pois isso mantem os inimigos de fora, tudo que eles querem é que não nos organizamos.

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  3. Nossos irmãos estão perdidos, não pertencem a nada e acham que pertencem a tudo.
    Eu tive uma conversa com um irmão sanguíneo, sobre como direcionar educação do filho se distanciando desta brasilidade, a resposta que tive foi:
    –Não vou educar filho como africano em um país de mestiços. Triste não conseguir desconstruir este pensamento.

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  4. Boa noite Anin! Amo ler o que escreves… É O caminho!! ❤ Pensando a partir da nossa ancestralidade…Vc conhece ou recomenda alguma leitura da cultura por autores nativos "indígenas" daqui? Entendendo o quão problemático ainda é usarmos os termos criados por eles pra nos definir…mas são de pequenos passos que se dá longas caminhadas… obrigada por tudo, um xero!?

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